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  1. Suplemento de Economia

    • Qualificar o empreendedorismo
      14-11-2006
      Nuno Pinto Bastos

      Para se ser empreendedor, já não chega ter boas ideias e espírito voluntário. Nos dias que correm, é vital que quem se lance na criação/gestão de um negócio tenha qualificações suficientes para enfrentar desafios decorrentes da transição de uma Sociedade Industrial para uma Sociedade da Informação e do Conhecimento.

      Em Portugal, o empresário ainda é vítima de vários estigmas sociais, registando-se uma forte penalização social para os que falham nos negócios (como se isso fosse sinónimo de incapacidade ou incompetência). Tudo isto gera uma cultura avessa ao risco empresarial que o Estado português tem dificuldades em contrariar. A expansão do Empreendedorismo Qualificado tem de ser conseguida através de políticas macroeconómicas que favoreçam o investimento e o desenvolvimento empresarial, mas também por intermédio de uma melhor organização do nosso sistema educativo. O actual modelo pouco estimula a capacidade de iniciativa, não valoriza suficientemente uma “cultura de risco” e ainda se encontra muito distanciado da realidade do país e das regiões.

      As deficiências do sistema português de ensino estão a condicionar a nossa competitividade económica à escala mundial. Diversos estudos (consultar o Discussion Paper denominado “Contributos do Investimento em Educação para a Variação do Produto Interno Bruto”, editado este ano pela consultora Edit Value e disponível em www.editvalue.com) provam que o crescimento económico de um país está associado ao grau de investimento destinado à Educação. O grau de empreendedorismo dos seus cidadãos é também essencial, dado que um empreendedor é aquele que é capaz de conhecer e pôr em prática ideias inovadoras, através da detecção e aproveitamento económico de oportunidades.

      Porém, os empreendedores necessitam de competências técnicas e intelectuais para operarem num mercado tão global. Isto implica: capacidade de inovação; domínio das novas Tecnologias da Informação e da Comunicação; conhecimentos técnicos de Gestão e Administração; bons conhecimentos de línguas universais; competências ao nível da Investigação & Desenvolvimento; e, consciência das responsabilidades sociais e ambientais associadas a qualquer actividade empresarial. Não foi por acaso que a Estratégia de Lisboa veio recomendar aos Estados-membros da União Europeia que reforcem a “educação e formação em empreendedorismo”, enquanto o Plano Tecnológico do governo português se propõe fomentar o denominado Empreendedorismo Qualificado.

      Sendo assim, os portugueses não se podem dissociar da importância das qualificações para a competitividade económica. Segundo um relatório da OCDE, Portugal é dos países que menos investe em Educação. O sector educativo absorve apenas 12,6% do investimento público total, quando a média na OCDE é de 12,9%. Entre os 30 países da OCDE, Portugal é o país onde a população com idades entre os 25 e os 34 anos possui uma menor frequência escolar.

      A situação portuguesa actual exige um crescimento económico mais acelerado e o mais qualificado possível. Paralelamente, são necessários mais empregos e maior sustentabilidade, o que significa: investimento, inovação e internacionalização suportados por uma capacidade de valorização económica do conhecimento. Será necessária uma dinâmica de empreendedorismo e criação de empresas (sobretudo de base tecnológica), que permita rejuvenescer a estrutura empresarial e qualificar o crescimento da economia.

      Minimizar as dificuldades com que se defrontam as empresas face aos desafios da competitividade num mundo cada vez mais global, criando um ambiente estimulante ao Empreendedorismo Qualificado, assumem-se como necessidades prioritárias. Na verdade, é fundamental desenvolver mais valências nesta área, não só pela importância que o Governo atribui à inovação, ao conhecimento e ao crescimento, mas também pelo facto do próximo Quadro Comunitário de Apoio (2007-2013) focalizar-se na competitividade, nas qualificações e na inovação.

      Em última análise, o Empreendedorismo Qualificado é uma das saídas profissionais que melhor pode garantir um futuro promissor, sendo necessário readquirir novas competências e qualificações ao longo de toda a vida. Facilmente se percebe que a criação e o apoio a novos projectos empresariais com carácter inovador e de forte valor acrescentado contribuem de forma decisiva para o desenvolvimento do tecido empresarial, com consequências muito benéficas para a economia da região e do país. É quando aplicada na prática que a competência ganha capacidade para gerar valor ou riqueza. Importa por isso apoiar a transformação de boas ideias em projectos de cariz empresarial.

      A terminar, não resisto a considerar que a aposta na promoção do Empreendedorismo Qualificado já não é estratégica mas sim obrigatória. Temos de avançar urgentemente com projectos que assumam a divulgação científica e tecnológica, através de uma articulação sustentada entre uma filosofia empreendedora e o carácter educativo-formativo. Numa economia globalizada e com elevados níveis de incerteza, a tarefa de levar a bom termo um novo projecto empresarial pressupõe uma valorização do conhecimento académico e científico associada à utilização e aplicação das melhores “boas práticas” e das mais avançadas metodologias de gestão empresarial.

      Por tudo isto, a construção da Sociedade do Conhecimento pode mesmo ser o único caminho para a mudança e para o desenvolvimento. Espero que este texto seja um contributo para despertar a consciência do colectivo.